Já faz algum tempo que estou em casa, no meu quarto, vendo muitas pessoas vindo me visitar. Entre orações e pedidos de melhoras, os olhares dos meus familiares, amigos, vizinhos e colegas se alternam entre esperança, medo, pena e espanto.
Meus pais cuidam de mim, fazem coisas que havia deixado de fazer há muito tempo, como me dar comida, por exemplo.
Pesquisamos muito por algum tratamento e com muita persistência e sorte consegui uma vaga no Hospital de Referência em Reabilitação de lesão medular Sarah Kubitschek, em Brasília.
A ansiedade tomou conta de todos que estavam em minha volta, no entanto me restringirei a descrever a minha.
Sempre quis viajar de avião, mas nunca imaginei em tais condições, para tais fins.
Nenhuma pessoa, nenhuma família, programa sua vida e seu orçamento com uma finalidade dizendo "fundo catástrofe", ou seja, não foi fácil conseguir dinheiro de última hora para comprar as passagens e pagar a hospedagem da minha mãe que me acompanhou nesse tratamento.
A família novamente ajudou, compreendeu e se uniu.
Meu pai levou a mim e minha mãe ao aeroporto, meu irmão também foi.
Recebi beijos e abraços dos dois, enquanto minha mãe estava atrás da cadeira de rodas para me empurrar.
Olhei fixamente para o meu irmão. Ele tinha 15 anos, estava na fase de querer usar algumas roupas minhas para sair, mas elas ainda ficavam grandes.
Ele me falou para sarar logo, que tudo iria dar certo, mas eu senti um pingo de tristeza em sua voz e decidi que não o deixaria mais triste... eu iria vencer para fazê-lo sorrir.
Entramos no avião... que sensação incrível! Todo mundo ficou pequeno lá de cima, parecia uma paisagem panorâmica do jogo de computador chamado Sim City.
Aterrissagem tensa, impacto forte, treme tudo!
Agora estou em Brasília. Um novo mundo para mim. Darei então início ao meu caro e árduo tratamento para que eu volte a viver no meu velho mundo, aquele que eu jogava futebol de rua com meus amigos... ia para a faculdade... enfim, não preocupava as pessoas!