sexta-feira, 18 de março de 2011

Relato paterno


Hoje foi um dia abençoado. Depois de oito longos dias meu filho abriu os olhos, saiu do coma profundo.
Lembro-me como se fosse ontem o que aconteceu já há algum tempo. O telefone tocando de madrugada, a voz do outro lado dizendo "Sofremos um acidente, o Dan não está muito bem". Mais do que depressa peguei meu carro e fomos eu e minha esposa até o hospital municipal de Pedreira (local do acidente). Os médicos nos disseram que o Danilo havia se machucado muito, a orelha cortou e ele estava desacordado. Entramos em choque.
Um dos guardas do hospital me entregou alguns retalhos de roupa e disse que eram do Dan e que cortaram para facilitar o atendimento. As calças rasgadas e tingidas de vermelho. A jaqueta do seu curso com o emblema sujo de sangue. Chorei nas roupas, confesso sem vergonha nenhuma que eu chorei.
Volto a atenção ao meu filho, ele está de olhos abertos e resmungando, ainda sob forte sedação e com muita dificuldade para falar. Ele deu um grunido, não consegui entender se era de dor ou de qualquer outra coisa.
Me senti pequeno, minúsculo, impotente diante ao momento. Eu sou pai, me sinto na obrigação de amparar meu filho, mas o que eu era agora? Um fraco diante toda essa situação?
Meu filho tenta se mexer e olha desesperado para a mãe e para mim, buscando pelo olhar alguma ajuda, alguma explicação.
Tomei fôlego e disse:
-Filho, as coisas mudaram agora, mas seremos fortes, nós vamos sair dessa juntos.

Dia trágico

Estávamos preparados para mais uma noite de festa. Como é bom fazer faculdade! Não só por saber que está, pela primeira vez, estudando algo que realmente gosta, mas também pelas festas, pelos amigos, pelas belas garotas.
Tínhamos um grupo de 5 amigos de cursos diferentes, mas do mesmo bairro que íamos juntos para a faculdade. Alternávamos os dias de cada um usar o carro próprio na intenção de diminuir os gastos com os estudos, já que os valores mensais de um curso em uma universidade particular são muito altos.
-Tá pronto, Dan?
-Nasci pronto, meu querido!
Desta vez os amigos eram outros. Estava com 2 amigos de sala do curso de Engenharia Ambiental e a saída da faculdade não tinha como destino nossas casas, mas sim uma festa! Que bom é ser universitário!
Lá chegamos e logo percebi o porque de eu ter gastado quarenta reais para entrar na festa. Lá se via alegria, garotas, meus amigos, as cervejas trincando de gelada, a música que convidava para uma dança...
Para esquentar o espírito nada melhor que uma cerveja gelada. De gole em gole tudo vai ficando mais belo, parece que as pessoas começam a gostar mais de você, as meninas começam a piscar, a vida fica mais simples de ser vivida.
Acompanhei o som que tocava e os amigos que bebiam.
Já era 4:05 am, estava tarde, era necessário ir embora. Na hora eu até pensei na bronca que minha mãe daria por eu ter saído de madrugada... passar com sono pela rodovia... mas eu sou adulto, já sei me virar.
-Deixa eu ir no banco de trás que eu tô quebrado, galera. - falei para os meus amigos que consentiram.
Eu estava com sono e resolvi dormir. Como estava no banco de trás ficou mais fácil para eu me acomodar melhor. Tentei apoiar a cabeça no vidro do carro e o cinto me impediu. Então tirei o cinto, afinal no banco de trás os riscos são menores...
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Não sei ao certo que dia é hoje. Estou meio atordoado com o clarão que as luzes florescente fizeram quando retomei a real consciência e abri os olhos. Afinal, foram 4 meses que variaram entre coma, complicações hospitalares e doses altíssimas de medicamentos que me deixavam completamente dopado.
Perguntei o porque de eu estar ali e me disseram aos prantos que meu amigo dormiu ao volante e bateu de lateral em um caminhão. Meus dois amigos estavam lá, me olhando.
Meu amigo que dirigia o carro veio ao meu encontro e chorando pedia milhares de desculpas. Eu, com dificuldade devido a traqueostomia necessária para minha respiração, tentei falar para ele relaxar e fui erguer a mão para cumprimentá-lo. Foi então que entrei em choque. Minha mão não se levantou, meus dedos não se mexeram, meu braço sequer fez algum movimento. Tentei me sentar e não senti as pernas. Abri a boca para falar algo e olhei para minha mãe, que chorava como todos que me olhavam em volta da cama.
-Danilo, meu filho, você está machucado.
Não era simplesmente machucado, eu estava tetraplégico.